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Hermetismo e Astrologia

Enviado por em Friday, March 6, 2009

A Astrologia, em um formato mais limitado ao que conhecemos hoje, chega a Grécia por volta do Século V A.C. De certa forma, em tal época, era ainda uma ciência, mas já parcialmente deteriorada pela ação dos milênios

"Decifra-me ou devoro-te"

A Esfinge

O termo "Cosmologia" possui múltiplos significados. Seu sentido será determinado de acordo com a época em que é dito. Para os estudiosos modernos, Cosmologia refere-se ao estudo da origem e evolução do Universo visível e seu possível fim.  Uma área da Física e da Astronomia. Porém, do ponto de vista das antigas tradições, o termo não tem exatamente tal conotação: refere-se a algo mais subjetivo e um tanto integrativo.

O sentido do termo "Cosmologia" sob a ótica tradicional, refere-se à ordem do Universo, sua origem, desenvolvimento e fim, mas sobretudo o fará integrando o Universo e a vida como um fenômeno único e indivisível. A lógica da Ordem, ou o sentido dos mecanismos de repetição gerados pela estabilidade do Sol.

Sob este tecido, a vida do Universo se manifesta. A cosmologia seria, então, um conjunto de princípios gerais que estão por toda a parte. Ela não é uma idéia insólita ou uma teoria, e sim um pilar mestre do conhecimento. Os estudos de Schuon, Lubicz, Guénon, Eliade, e Pichón, algumas autoridades reconhecidas mundialmente por seus estudos, atestam como a idéia das Tradições Antigas do Oriente Extremo e Médio e os pensamentos dos Gregos (que destilaram tais conhecimentos Cosmológicos em reflexões filosóficasa) afetaram de forma substancial os paradigmas que se estendem até nossos dias. Parece inverossímil, mas o fato é: as tradições entraram com Pinga e os gregos com o Alambique. As tradições não são, entretanto, os feitos recentes das ciências modernas, mas a base de seus postulados. A tradição não inventou o quindim, mas sempre foi os ovos.

A Astrologia chega à Grécia

A Astrologia, em um formato mais limitado ao que conhecemos hoje, chega a Grécia por volta do Século V A.C. De certa forma, em tal época, era ainda uma ciência, mas já parcialmente deteriorada pela ação dos milênios. Todos sabemos como o tempo, a areia e as dificuldades de documentação, atrapalharam na evolução das idéias sobre a natureza na antiga Mesopotâmia. Para se ter um parâmetro simples, é só deter-se por um instante na Astrologia da Babilônia, uma das últimas cidades da Mesopotâmia. Ela era já um conjunto de frases sem muito sentido, aliadas a um misticismo galopante e decadente.

A Astrologia não precisava de repintes e sim de um restauro. Sua cosmologia havia se perdido se não de forma total, tem-se que admitir, parcialmente e, por isto, tornara-se um conjunto de regras e aforismos confusos.

A vocação dos Gregos para o restauro é notável. Sabiam eles que a Astrologia era uma forma extraordinária de mapear os ciclos do meio ambiente e o melhor: havia funcionado por milênios, orientando toda uma grande civilização que estava a ser encoberta pelas poeiras do deserto, feito seus cuneiformes. O privilegiado ambiente Grego, propício ao desenvolvimento da ciência, por sua vocação cosmopolita, no qual múltiplos povos se acotovelavam, acabava por tornar possível uma grande operação: a transfusão de sangue cosmológico entre as várias culturas, visando o ressuscitar de algumas antigas ciências. A Astrologia não escaparia de tal operação, pois era valiosa demais.

Se o calendário da vida era uma verdade, qual seu sentido? Onde estariam as bases de seu movimento? Em que verdades universais se apoiariam? Muitos pensadores sofriam de uma obsessiva insônia de verdade. Entre as culturas estudadas, a dos Egípcios parecia ser a mais preocupada e eficiente na preservação de seus estudos. Seus monumentos dão prova disto até hoje. Sua Cosmologia ainda parecia estar gozando de boa saúde e tornou-se uma referência nesta ação sã de enfermagem.

Esta Teologia - Ciência que no Egito refere-se a Thoth, na Grécia sob o nome de Hermes Trismegistos, encerra certamente os restos alterados mais infinitamente preciosos desta Cosmologia. Os dias atuais revelam estes ensinos em alguns textos legítimos como o Caibalion, sem autor, o Corpus Herméticum, de formulação Egípcia, um conteúdo eclético (Pitagórico-Heracliteano-Platônico), principalmente na tradução do Filósofo Ficcino, e os "Fragmentos" uma coletânea de papiros gregos antigos. Hermes não foi exatamente alguém, e sim um nome genérico como Manu ou Buda, querendo significar uma Casta ou um Deus em forma de conhecimento. Não foi provavelmente um único homem. Os Hermetistas Gregos eram, portanto, estudiosos do pensamento cosmológico do Egito.

O Caibalion, nome latinizado de "Kybalion" significa "um preceito manifestado por um ente de cima", ou simplesmente "Tradição". Uma outra bela variável de sentido e não de etimologia seria "Conhecimento sem autor". Em seus preceitos pode-se, de forma didática, começar a tatear o sentido cosmológico dos Egípcios, agora em uma visão mais didática. Mais que um livro, o considero uma das mais importantes obras da História da Astrologia e do conhecimento.

Ele se estrutura em sete pressupostos básicos:

1 ) Ritmo

2 ) Vibração

3 ) Polaridade

4 ) Mentalismo

5 ) Causa e efeito

6 ) Gênero

7 ) Correspondência

Em realidade, não são sete e sim uma única lei. Elas se inter-relacionam e se apoiam, como as faces de um sólido platônico, e não se dispõem em raias fragmentadas. As tradições são sempre apresentadas assim: sem costuras.

Neste ensaio, irei expor dentro dos limites possíveis, seus sentidos mais abrangentes e, de superfície, salientando alguns contornos, mas sem a pretensão de verticalizar.

Ritmo

Tudo dentro do Universo possui um ritmo. Tudo nasce, cresce, se desenvolve e morre. Toda manifestação de movimento implica em uma tendência à ordem. Os ritmos lentos dominam os rápidos. O imutável controla o mutável. Toda e qualquer transição cíclica se dá de forma natural e lenta. A transição, implicada em um conceito de sucessão, gera a idéia cognitiva de realidade transitória. O fenômeno cíclico permite a previsão dos mecanismos de repetição em níveis análogos, tornando possível seu mapeamento.

(É a fonte do sentido do Zodíaco, Elementos, e Ritmos cardeal, fixo e móvel entre outros Progressões , Trânsitos e técnicas de Previsões podem ser facilmente incluídas.)

Vibração

Tudo no Universo é feito de vibrações, desde as grotescas, percebidas pelos sentidos, às de nível mais fino e não conscientes. As ondas e vibrações estão por toda a parte, não se podendo escapar. Elas são a base da existência do mundo dos sentidos. A luz é apenas uma, mas refrata-se em vários níveis de freqüência. O mesmo se pode dizer do som e suas escalas cromáticas. Na natureza nada se perde, e as mesmas partes tornam-se outras, dependendo de sua posição em uma cadeia ou de estado momentâneo.

Está na base do entendimento de como as transmissões do nível subquântico e sonoro, bem como os de espectro luminoso, afetam os seres vivos, incluindo-se o homem, interligando todo o Universo. Ela irá mostrar como estruturas zodiacais de mesma natureza se diferem como os de Princípio fogo, terra, ar e água, por exemplo. Os aspectos encontram aqui um sentido todo especial na lei acústica de ressonância.

Polaridade

Tudo possui dois pólos. O todo fabrica universos aos pares indivisíveis e auto sustentáveis. Em seu âmago, um pólo possui seu gêmeo oposto, que lhe dá sentido e significado. Os opostos são em realidade a mesma essência em si, mas refratados diante do Universo manifesto. Os extremos se tocam e confundem.

(Projetam a interpretação cognitiva de que existem apenas seis eixos de movimento e não exatamente doze signos. Por isto, Áries e Libra partilham do senso de justiça (pela força ou pelos tratados); Leão e Aquário tentam buscar destaque, mas em formatos diferentes (ditadores ou revolucionários). Os Depressivos com alta carga de elemento fogo também são bons exemplos de polarização. Ideal para explicar alguns paradoxos astrológicos.

Mentalismo

O todo é mente. Nenhuma realidade absoluta pode ser observada. Toda e qualquer descrição do Universo baseia-se no espectro de nossos sentidos e, portanto, o Universo é uma representação parcial da realidade absoluta. O mundo subjetivo na qual nossa personalidade se encontra é determinado em grande parte de como aparentemente o mundo é filtrado por nossos sensores cerebrais. Temos a sensação aparente de realidade, da qual nos colocamos como o zero demarcador.

Este princípio é a base de como interpretamos as estruturas cíclicas, como a Lua em seu curso extremamente repetitivo aos sentidos. Nos dá a sensação de Trivialidade e adaptação, ou no conceito do "aquilo que é muito bem conhecido desde a infância". Urano, por exemplo, em seu único ciclo completo, perante o tempo de vida humana, nos parece "imprevisível" ou "inesperado". Este princípio fundamenta os conflitos observados em sinastria.

Causa e Efeito

As mecânicas do Universo implicam-se em conceitos de causalidade parcial. O Universo e o Cosmos possuem uma intenção. Deus não joga aos dados. O Universo é constituído de uma ordem onde efeitos e causas se interligam.

Este princípio é o que explica a idéia de que Astros não fazem desportistas e sim incliam pessoas a táticas de competição. Os estudos de Gauquelin só confirmaram tal premissa. Alguns fatos da vida Humana podem ter efeitos alterados dependendo da forma como se posiciona o indivíduo.

Gênero

O fenômeno vida manifesta-se através de dois princípios: o ativo e o passivo. A vida é na realidade o casamento de princípios de vida ativos e catalisadores. O Sol é apenas a contra-parte ativa do fenômeno vida, sendo a umidade seu catalisador. O princípio ativo não é melhor nem pior que o passivo. O efeito Astrológico dá-se em função de princípios ativos (Astros) e passivos (Homens). (Ver São Thomas de Aquino)

(Este senso fundamenta a idéia de quem interfere em quem em uma hierarquia planetária e zodiacal, por exemplo. Seu domínio implica no natural senso de interatividade entre o meio e o indivíduo. Isto explica, por exemplo, a sensação de "ter de influenciar" encontrada nos agentes ativos fogo (somente a contraparte de vida ativa), por exemplo).

Correspondência

O Universo é construído sob as mesmas bases desde as mais simples às mais complexas. O simples e o complexo são separados apenas pelo tempo e o espaço. O universo é indivisível. O que está em níveis complexos é análogo ao que está em níveis menos complexos. O que está em cima é análogo ao que está embaixo.

(Esse princípio é o fundamento do Universo interligado. O princípio muito próximo ao das holografias de Pribram, e o Universo Dobrado e Explícito de Bohn. Ele fundamenta a analogia (transporte cognitivo se significâncias de realidade) entre casas e os signos, bem como as regências dos signos, por exemplo.

Veredito

Não serei leviano. Tentarei, dentro do possível, explicar os desdobramentos que irão fundamentar cosmologicamente a Astrologia em futuros artigos. É bom lembrar que muitos destes princípios são a base daquilo que fazemos dentro da medicina, física, geometria, biologia, as neurociencias, psicologia, entre outras.

A Cosmologia é a água de um Jardim. Sem ela, o discurso interpretativo torna-se árido ,desconexo, e sem articulação. Daí o problema da maioria dos estudantes não saberem "juntar" os significados. Com a mutilação deste importante item, a Astrologia resume-se a um punhado de curiosas engrenagens soltas e não um instrumento de leitura do Universo.

Não se pode fazer milagres. Quando se estuda algo muito antigo, é no mínimo de bom senso possuir um orientador consciente. A velha Esfinge que significa, entre outras interpretações, os mistérios do Universo, nos devora quando não temos capacidade de enfrentá-la. Em outras palavras, não se deve tentar decifrar um mistério de forma leviana. Acabamos por afirmar distorções e ruídos de verdades, e nos perdemos totalmente.

As leis herméticas não são a cura para as nossas bobagens pessoais, mas com certeza são um grande antídoto contra a miopia provocada pela fragmentação atual do conhecimento humano.

Carlos Fini - Astrólogo

Biblografia

O Caibalion - Tres iniciados
Corpus Herméticum - Hermes Trismegistos
Suma Teológica - Aquino, São Thomas
Sacred Science - Lubicz , S.
Sobre os mundos antigos - Schuon, F.
O sagrado e o profano - Eliade, M.
A Cosmopsicologia - Gauquelin, M.
Astrologia e Religião no Mundo Greco-Romano - Cummont, F.

fonte:
Artigo publicado no site da
GLESP - Grande Loja do Estado de São Paulo


 

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