A LIBERDADE, juntamente com a IGUALDADE e a FRATERNIDADE, constitui um dos pilares da Maçonaria.
Detenhamo-nos nesse tema, pois ele se presta a mal-entendidos.
Para muitas pessoas, liberdade é sinônimo de rebeldia. Embora a rebeldia possa ser o primeiro passo para a conquista da liberdade, esta não se reduz àquela. Com muita freqüência, a pessoa rebelde está presa ao que se espera dela, em termos de uma estrutura externa – leis, regras, preceitos vários – sentindo-se livre, se fizer exatamente o oposto. Se não se pode fazer tal coisa, por isso mesmo é que devo fazê-la para ser livre.
Outro erro comum é confundir liberdade com falta de disciplina. "Cada um faça o que lhe aprouver", convidando o homem a atuar irresponsavelmente, relegando a outrem os encargos que lhe competem.
Há quem use o termo liberdade para definir a possibilidade de ir e vir para onde queira, ou de decidir determinados objetivos, como escolha profissional, mudança de residência, controle do número de filhos etc.
A liberdade pode, também, ser examinada no sentido político: liberdade de voto, de manifestação de idéias etc.
No sentido existencial, contudo, a liberdade assume outra conotação, como, magistralmente, expôs VIKTOR FRANKL: "quando a vida é reduzida ao simples fato de existir e quando nada mais tem significado (como na experiência de um campo de concentração), existe ainda a liberdade básica, a liberdade de escolher a atitude a tomar com o próprio destino. Isso pode não modificar o destino, mas modifica enormemente a pessoa".
Assim, a liberdade é vista como um dos valores fundamentais da existência, não como liberdade em relação a condições, sejam biológicas, psicológicas ou sociais; não como liberdade de algo, mas sim como liberdade para algo, ou seja, a liberdade para a tomada de posição perante todas as condições.
O homem só se eleva à condição de existente, quando assume a dimensão da liberdade, porque sendo livre, a cada instante decide o que é, não arbitrariamente, mas com responsabilidade. A escolha de suas possibilidades é um ato de sua liberdade, liberdade que ele tem, de um modo ou de outro e até à morte, de assumir uma atitude para com seu destino. E, sempre há um "de um modo ou de outro", ao escolher o que verdadeiramente fazemos de nós.
Quantas vezes nos encontramos diante de alternativas de valores, da necessidade de escolhermos dentre princípios entre si contraditórios? Tal escolha, se feita impulsivamente, sem consciência e responsabilidade, não será uma livre escolha.
É essa condição de liberdade que podemos conquistar e, de fato, o fazemos à medida em que aceitamos a responsabilidade de nossa existência, não como algo a que estamos presos, mas como um valor por nós escolhido, como um "optar por nós mesmos".
Assumindo nossa responsabilidade existencial, decidindo com liberdade nossas escolhas de vida, transformamos a disciplina externa em auto-disciplina, nas porque sejamos submissos às ordens, mas porque sabemos o que pretendemos fazer de nós. E a disciplina é fundamental para a consecução de nosso projeto existencial.
Recusando-nos como "coisa" e enveredando pelo desdobramento de nossas possibilidades existenciais, de nossas possibilidades de dispormos de nós mesmos, de nos autodeterminar, estaremos conquistando a liberdade.
Liberdade condicionada pela responsabilidade, que, por sua vez, não pode existir sem liberdade, numa verdadeira dialética da autonomia.
José Cássio Simões Vieira
Mestre Instalado da ARLS Theobaldo Varoli Filho
São Paulo - SP.
fonte: Publicado no site da GLESP - Grande Loja do Estado de São Paulo